quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Internacional / Quênia


Entenda a crise no Quênia

Odinga (E) acusa Kibaki (D) de fraude na eleição presidencial
A divulgação do resultado das eleições presidenciais do Quênia, realizadas no último dia 27 de dezembro, provocou protestos da oposição e mergulhou o país na pior onda de violência dos últimos anos.
Centenas de pessoas morreram ou ficaram feridas em confrontos em diversas cidades do país e dezenas de milhares foram obrigadas a deixar suas casas para fugir da violência.
A Comissão Eleitoral deu a vitória ao presidente, Mwai Kibaki, reeleito para um segundo mandato de cinco anos. No entanto, o principal candidato de oposição, Raila Odinga, contesta o resultado e afirma que houve fraude.
Entenda a crise desencadeada pelas eleições.

Qual a diferença desta eleição para as anteriores realizadas no Quênia?

O presidente Mwai Kibaki foi eleito em 2002 com a promessa de mudança, encerrando 40 anos de domínio de um único partido, o Kanu, no governo.
As eleições de 2002 foram amplamente elogiadas, depois de votações anteriores marcadas por alegações de irregularidades e violência étnica.
O presidente do Quênia na época, Daniel arap Moi, concordou em deixar o poder depois de 24 anos de governo. O candidato apoiado pelo presidente também aceitou a derrota.
No entanto, nas eleições atuais a impressão é de que o Quênia retrocedeu.
Observadores da União Européia criticaram o pleito e disseram que alguns dos resultados divulgados na capital, Nairóbi, eram diferentes dos apurados nos distritos eleitorais. Em algumas regiões, o número de votos foi maior do que o número de eleitores registrados.

Que papel a questão étnica teve no processo eleitoral?

A política queniana sempre foi muito influenciada pela questão étnica.
Os membros do grupo étnico de Odinga, o Luo, concentrados principalmente no oeste do país e nas favelas de Nairóbi, votaram em sua maioria no "seu" candidato.
Da mesma maneira, a maioria dos Kikuyus, que vivem principalmente na região central do Quênia, votou em Kibaki.
A corrupção ainda é comum no Quênia, o que leva muitas pessoas a acreditar que ter um parente no governo pode trazer benefícios diretos, como um emprego no serviço público.
Em algumas regiões do país, há confrontos entre Luos e Kikuyus.
Na década de 90, o partido Kanu foi acusado de incitar tensões étnicas e colocar seus grupos rivais uns contra os outros, mantendo-se desta maneira no poder.

Como é a vida no Quênia?

O Quênia é a economia mais desenvolvida do Leste da África e é famoso entre os turistas por suas reservas e praias no Oceano Índico.
O país faz fronteira com vizinhos mergulhados em conflitos, como a Somália, a Etiópia e o Sudão.
Durante o primeiro mandato de Kibaki, a economia do país cresceu de maneira estável, mas muitos quenianos ainda não foram beneficiados por esse crescimento.
Nas favelas superlotadas de Nairóbi, os moradores são obrigados a conviver com gangues violentas. As condições sanitárias são precárias. Não há esgotos, e os banheiros são substituídos por sacos plásticos, depois jogados pela janela.
Essas são algumas das pessoas que esperavam que Odinga trouxesse mudanças para o país. Essas pessoas afirmam que Kibaki não manteve sua promessa de acabar com a corrupção, um problema que há anos atrasa o desenvolvimento do Quênia.

O que deve acontecer a partir de agora?

Odinga convocou uma grande manifestação em Nairóbi para esta quinta-feira. O candidato e seus apoiadores esperam ser conduzidos ao poder pela força do povo nas ruas.
No entanto, as autoridades já estão em alerta na capital e deverão reforçar a segurança.
Odinga tem também a opção de entrar com um recurso legal contra o resultado das eleições. Mas como Kibaki foi empossado imediatamente após a divulgação do resultado oficial, são poucas as chances de que essa alternativa trouxesse resultados para o candidato derrotado.

Qual a posição da comunidade internacional?

A pressão internacional foi crucial para que o ex-presidente Daniel arap Moi deixasse o poder após as eleições de 2002.
O Fundo Monetário Internacional suspendeu a ajuda financeira ao país devido à preocupação com a corrupção.
A União Européia e a Grã-Bretanha criticaram o processo eleitoral. Os Estados Unidos, que já receberam algumas vezes ajuda do governo queniano em sua luta contra extremistas islâmicos na vizinha Somália, fizeram críticas menos veementes.
A pressão internacional sobre o Quênia só vai ter resultado se as principais potências mundiais se unirem e estiverem realmente determinadas a agir.

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