sexta-feira, 4 de julho de 2008

BRASIL / Situação da Mulher

Retrato brasileiro
Correio Braziliense - 4/7/2008
Sexo mais cedo para as mulheres
Um terço das brasileiras têm a primeira relação sexual até os 15 anos de idade. De 1996 a 2006, esse índice triplicou, de acordo com a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, divulgada ontem pelo Ministério da Saúde. O levantamento mostrou ainda que, com maior acesso a métodos contraceptivos, o número de filhos caiu de 2,5 para 1,8, em média. Mas 45% das mães afirmam que não desejavam a criança no momento em que engravidaram.
Queda da mortalidade infantil, aumento de cesáreas, índices de amamentação ainda incipientes e crescimento da obesidade entre as mulheres fazem parte do estudo do governo. Para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, há muito o que comemorar, apesar de alguns índices “preocupantes”. Um dos que contrariam a recomendação do governo federal é o aumento do número de cesáreas — 36,4% em 1996 para 44% em 2006.
Continuaremos com nossas ações no sentido de incentivar o parto normal”, afirma o ministro. Por outro lado, um dado alentador está no crescimento do número de mulheres que fazem consultas pré-natal ao menos seis vezes — média considerada satisfatória pelo ministério —, hoje de 77% das gestantes. Já a amamentação na primeira hora após o parto, outra bandeira da pasta, é feita por 43% das mães, índice que poderia ser melhor. Temporão relaciona a redução no número médio de filhos entre as brasileiras à distribuição gratuita de métodos contraceptivos, que atende hoje 21,3% das mulheres.
A quantidade de grávidas adolescentes, com apenas 15 anos de idade, entretanto, praticamente dobrou, passando de 3% para quase 6%. Um reforço nas campanhas educativas para esse público foi mencionado pelo ministro, que citou o projeto de máquinas dispensadoras de preservativos, semelhante às de refrigerante, nas escolas públicas a partir do ano que vem. Descuido Não foi por falta de aviso, porém, que Verônica Souza Ribeiro, 17 anos, moradora de Itapuã, no DF, engravidou quando tinha 16. Mãe de João Victor, 3 meses, ela estava namorando há dois anos, quando veio a notícia: o exame de sangue deu positivo.
“Eu achava que não ia acontecer comigo. Os professores falavam sobre camisinha e pílula, mas eu não estava nem aí”, confessa. Com a chegada do bebê, a vida de Verônica passou por uma revolução. Ela largou a escola, não pode mais sair com as amigas e aprendeu a ter mais responsabilidades. Lídia Driele da Silva Ribeiro, 18 anos, que engravidou aos 17, conta que sempre tomou anticoncepcional. Porém, começou a passar mal por causa do excesso de hormônios e, num descuido, ficou grávida.
“Não usamos camisinha. Eu amo minha filha, mas não quero outro tão cedo. Agora aprendi a lição”, garante. Já Francisca Janiely Soares Martins, 18, passou pela experiência duas vezes. Aos 16, engravidou da primeira filha. E, há quatro meses, ganhou o caçulinha. “Em nenhuma das vezes eu pensei que fosse engravidar. Eu estava tomando remédio e resolvi trocar de marca. Na troca, acabei engravidando de novo”, diz. O mesmo aconteceu com Gabriela Rodrigues da Silva, 18. “Eu parei de tomar a pílula e não sabia que tinha de usar camisinha durante o mês seguinte. Foi descuido mesmo.”
O uso inconsistente do método, eventuais falhas e a descontinuidade da distribuição de contraceptivos na rede pública de saúde são apontados por Elza Berquó, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que coordenou o estudo do ministério, como as explicações para a gravidez indesejada, relatada por 43% das mães brasileiras. Dessas, 28% desejavam o filho para mais tarde e 18% não queriam em momento algum da vida. Homens preocupados A vontade de evitar filhos também tem movido homens a usarem métodos contraceptivos. O número de esterilizações direcionadas a eles pouco mais que dobrou em 10 anos, passando de 1,6% para 3,4%.
Para o diretor do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, esses dados sinalizam uma importante revolução na implementação dos direitos sexuais e reprodutivos no Brasil. Na contramão dos homens, a esterilização por parte das mulheres diminuiu, de 27,3% para 21,8%. Elas encontraram outras formas de prevenir, além de filhos, doenças sexualmente transmissíveis. Quase 13% exigem o preservativo masculino, índice que em 1996 não passava de 5%. Entre 1996 e 2006, a taxa de mortalidade no Brasil caiu de 39 mil nascidos vivos para 22 mil.
O ministro Temporão atribuiu a queda significativa — que coloca o Brasil como o segundo país do mundo, entre as 68 nações monitoradas pela Organização Mundial de Saúde, que cumpriram a meta de reduzir a mortalidade antes do prazo — a um acesso maior aos serviços de saúde e investimentos estruturais. “A atenção às crianças, o Programa Saúde da Família sendo ampliado, oferta de saneamento básico aumentando: tudo isso culmina em indicadores melhores”, diz o ministro.

A atenção às crianças, o Programa Saúde da Família sendo ampliado, oferta de saneamento básico aumentando: Tudo isso culmina em indicadores melhores

José Gomes Temporão, ministro da Saúde

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