quarta-feira, 5 de março de 2008

BRASIL / Ensino Superior

7/3/2008

Correio Brasiliense

GOIÂNIA

Ministério vai investigar Unip
Ministro Fernando Haddad considera
“preocupante” aprovação de menino de 8 anos para o curso de direito. Garoto foi barrado no primeiro dia de aula

Hércules Barros

Da equipe do Correio

O ministro da Educação, Fernando Haddad, ordenou uma investigação na Universidade Paulista (Unip) de Goiânia, que aprovou no vestibular para o curso de direito um menino de 8 anos. Para o ministro, a aprovação é “preocupante”.
A declaração foi feita durante um evento em Brasília. Ontem, às 7h, o pequeno João Victor Portellinha foi barrado na porta da faculdade, naquele que seria o seu primeiro dia de aula como universitário. Segundo a Unip, a matrícula de João Victor não será efetivada e o dinheiro da primeira mensalidade paga pelo pai está à disposição da família. De acordo com o secretário de Educação Superior do MEC, Ronaldo Mota, a instituição já está sob supervisão por ter obtido indicadores que apontaram para sérias deficiências no curso de direito.
Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no último Exame da Ordem em Goiás, em dezembro de 2007, a Unip de Goiânia aprovou 20,1% dos seus 126 inscritos para a prova. No caso específico do universitário mirim, a secretaria está solicitando elementos referentes à prova, ao rendimento do candidato e demais esclarecimentos.
“Faltou tato e inteligência de, no mínimo, receber o aluno, apresentar as instalações, os professores e os colegas. Depois era só dizer que ele não seria aceito”, avalia o empresário Willian Ribeiro de Oliveira, 42 anos, pai do menino. Willian considera “preconceito” não permitirem que seu filho faça faculdade, mesmo estando na 5ª série do ensino fundamental.
O empresário acha que o filho tem preparo para encarar o ensino superior e deve entrar com pedido de liminar na Justiça de Goiás para garantir a admissão do menino na Unip. “Se houver amparo da lei, ele vai fazer essa faculdade.” Banalização O presidente da OAB-GO, Miguel Cançado, considera a atitude dos pais de João Victor de recorrer à Justiça uma decisão equivocada. “É expor demais a criança”, pondera.
Cançado destaca que o ministério tem responsabilidade na banalização e mercantilização do ensino de direito. “O problema passa pelo MEC, uma vez que a universidade recebeu autorização para funcionar”, lembra. Para a direção da Unip, a prova feita pela criança foi apenas um treino. Segundo o diretor da instituição José Augusto Nasr, a universidade tem o hábito de aceitar treineiro — vestibulandos que fazem o teste como preparatório para o exame oficial, sem diferenciá-los de quem efetivamente faz com intuito de ingressar na graduação.
“Hoje em dia, o treineiro faz prova só para ver como é, e no dia da avaliação de verdade não ficar nervoso. Há anos, um aluno de 8ª série entrou para medicina na USP e não havia mecanismo para impedir isso”, compara. O diretor ressalta que a matrícula de João Victor não foi, nem será, feita. “O pai quer é notoriedade”, avalia. Na quarta-feira, a Unip divulgou nota reconhecendo o desempenho do estudante.
“Levando em consideração sua idade e escolaridade, foi bom, especialmente na prova de redação, em que revelou boa capacidade de expressão e manejo eficiente da língua. A singeleza do conteúdo não destoava da linguagem simples, direta, coloquial, com poucos deslizes em relação à norma culta. Esse fato o torna merecedor de um acompanhamento especial em seus estudos”, diz o texto.

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