sábado, 12 de abril de 2008

Brasil / Reforma Agrária


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QUESTÃO AGRÁRIA


Conflito no campo mata menosRelatório divulgado pela Comissão Pastoral da Terra mostra que assassinatos por disputas na zona rural caíram de 35, em 2006, para 25, no ano passado.


Hércules Barros

Da equipe do Correio Brasiliense


Depois de perder o marido em um conflito no campo, a agricultora Iris de Oliveira agora enfrenta duas lutas: criar os dois filhos sozinha e conseguir um pedaço de terra para plantar. O marido dela, o sem-terra Valmir Mota de Oliveira, foi morto durante confronto com seguranças da fazenda experimental da multinacional suíça Syngenta, em Santa Tereza do Oeste (PR), no final do ano passado. Valmir é uma das 25 pessoas assassinadas em decorrência de ações de resistência e enfrentamento rural no Brasil em 2007, segundo o relatório Conflitos no Campo, divulgado ontem pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, durante o Acampamento Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra, que ocorre em Brasília até amanhã. “A morte dele me deu mais forças para lutar pelos meus dois filhos”, desabafa a agricultora. Apesar da perda sofrida por Iris, o levantamento da CPT mostra que o número de mortes em decorrência de conflitos agrários caiu de 35 óbitos, em 2006, para 25, no ano passado. A diminuição pode ser atribuída a um dos estados com maior número de tensões, o Pará. De acordo com o relatório da CPT, o estado registrou 19 mortes a menos no ano passado em relação a 2006: caiu de 24 para cinco mortos. “Uma explicação possível seria o conjunto de ações que vêm se seguindo em função da pressão internacional desde a morte (há três anos) da irmã Dorothy Stang”, diz o geógrafo Walter Porto Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense, responsável por analisar os dados sobre conflitos no campo compilados pela CPT. Pela primeira vez em 23 anos, o relatório traz o registro de mortes em decorrência de conflito pela água. Os dois assassinatos foram em áreas de carcinicultura (produção de camarão), no Ceará e Rio Grande do Norte. “O agronegócio ocupa as áreas de mangue e as famílias que viviam da atividade são atropeladas e assassinadas”, afirma Antonio Canuto, secretário da Coordenação Nacional da CPT. As ações pela água envolvem também luta contra a construção de barragens e açudes, além do projeto de transposição do Rio São Francisco, que aparece no relatório da CPT como gerador de três conflitos em Cabrobó (PE). O aumento do trabalho escravo no Brasil também é destacado no documento, que aponta uma explosão no número de trabalhadores escravizados, principalmente no setor da cana-de-açúcar. As denúncias contra trabalho escravo pularam de 6,9 mil, em 2006, para 8,6 mil, no ano passado. Apesar do total de ocorrências neste ano (265) ter superado 2006 em apenas três casos, no ano passado foram libertados 2.341 pessoas a mais que em 2006. Segundo o relatório, 52% dos trabalhadores libertados pelo Grupo Móvel do Ministério do Trabalho eram explorados em usinas de cana. Ambev O relatório da CPT foi divulgado dois dias antes de o massacre em Eldorado dos Carajás (PA), onde 19 sem-terra foram mortos, completar 12 anos. A proximidade da data tem feito o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizar uma série de invasões. Atualmente, durante o Abril Vermelho, o movimento promove ocupações e protestos em 14 estados. Ontem, cerca de 4 mil famílias acamparam em uma praça em Maceió. Também ontem, o MST divulgou que as 600 famílias que ocupam a fazenda Águas do Pilintra, em Agudos, pertencente à cervejaria Ambev, estão derrubando os eucaliptos existentes na área. O objetivo, segundo nota divulgada pela entidade, é plantar alimentos no lugar.


Uma explicação (para a diminuição de mortes no Pará) seria o conjunto de ações desde a morte da irmã Dorothy Stang

Walter Porto Gonçalves, geógrafo da Universidade Federal Fluminense

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