sábado, 12 de abril de 2008

Brasil / Vilolência

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CRIME EM SÃO PAULO/ Caso Isabela
Perto da conclusãoInquérito deverá descartar participação de terceira pessoa no assassinato de Isabella Nardoni e determinar indiciamento de pai e madrasta da vítima. Prisão preventiva do casal pode ser pedida
Ullisses Campbell
Da equipe do Correio Brasiliense

São Paulo
Depois de 19 dias de investigação, a polícia de São Paulo descarta a presença de uma terceira pessoa no apartamento de Alexandre Nardoni, 29 anos, e Anna Carolina Jatobá, 24, na noite em que Isabella Nardoni, 5 anos, foi morta. Com isso, cresce a convicção dos investigadores de que o pai e a madrasta da vítima seriam mesmo os autores do crime. Dentro dessa linha de investigação, os técnicos trabalham agora para individualizar o crime, ou seja, determinar quem agrediu a menina e quem a jogou pela janela do sexto andar. A principal hipótese é a de que Anna Carolina teria espancado e asfixiado Isabella, e Alexandre, a lançado para a queda de 20m. Trechos do relatório preliminar que constará do inquérito sugerem que os delegados Calixto Calil Filho e Renata Helena Pontes deverão indiciar o casal suspeito a qualquer momento. Eles só esperam a conclusão dos últimos laudos. Os três peritos que trabalham no caso se reuniram ontem para determinar, com precisão, a causa da morte de Isabella. A intenção do grupo, que pediu a opinião de um quarto profissional, é entregar suas conclusões até sexta-feira. Eles sabem que a ferida na testa de Isabella foi feita antes da queda e que também não havia marcas de unhas no corpo da menina. Calixto e Renata receberam ontem resultados definitivos dos laudos audiovisuais, com imagens e fotos da cena do crime. No início da noite, resultados de outros laudos chegaram às mãos dos delegados. Segundo os documentos, vestígios da tela de proteção cortada na janela do apartamento foram encontrados na camisa de Alexandre. A polícia teria concluído também que os cortes na tela foram feitos em linha reta, por uma pessoa de cerca de 1,80m. Haveria também manchas de sangue na calça jeans que Anna Carolina usava na noite do crime. Outra conclusão a ser apontada pela polícia será com relação à pegada na cama onde a menina estava. A marca seria compatível com o solado de um dos calçados da madrasta. Motivação Caso decida mesmo pelo indiciamento do casal, a polícia de São Paulo terá outro desafio: determinar a motivação do crime. Em depoimento, a mãe biológica de Isabella, Ana Carolina de Oliveira, 24 anos, disse que, no passado, a atual mulher de Alexandre nutria um “ciúme doentio” por causa do contato que havia entre o ex-casal. No entanto, a mãe de Isabella disse que, recentemente, a relação entre as duas estava pacífica. Segundo uma fonte, atualmente, a maior desavença entre a mãe biológica de Isabella e Alexandre era com relação ao pagamento de pensão. O pai, que está desempregado, pagava R$ 250. Ana Carolina, porém, reivindicava R$ 1.200, para matricular a garota na natação e numa escola de inglês. Alexandre avaliava com o pai, Antônio Nardoni, a possibilidade de custear essas despesas, e isso teria deixado a madrasta de Isabella, que também está desempregada, indignada. Assim que souberam do conteúdo do relatório preliminar da polícia, os advogados de defesa correram para a casa do pai de Alexandre, onde o casal suspeito está hospedado, no bairro de Tucuruvi, Zona Norte. O defensor Marco Pólo Levorin negou mais uma vez que o pai e a madrasta tenham matado Isabella. Na segunda-feira, o advogado Luiz Berbere entrou no Tribunal de Justiça de São Paulo com um habeas corpus preventivo para evitar que eles sejam presos novamente. “Esse advogado não tem procuração dos meus clientes”, ressaltou Levorin. Na noite de segunda-feira, a delegada Renata Pontes colheu o 56º depoimento do caso. Trata-se de uma pessoa que mora nos fundos do prédio em que Isabella foi morta. Ao Correio, ele disse que ouviu “berros” de uma criança na noite do sábado e gritos histéricos de uma mulher que teriam durado cerca de 30 segundos. Em seguida, houve um silêncio e, no dia seguinte, ele soube da tragédia. “A delegada disse que eu terei que voltar para reconhecer se o grito era da madrasta”, adiantou.
Há suspeita de que alguém fez uma limpeza no local e isso dificultou o trabalho dos peritosdiretor do Instituto de Criminalística

IC suspeita de limpeza
Tiago Queiroz/AE

Policiais e técnicos em uma das perícias na cena do crime: oito visitas ao apartamento do pai e da madrasta de Isabella
A polícia precisou realizar oito perícias no apartamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, suspeitos da morte de Isabella Nardoni, 5 anos, durante os 19 dias de investigação. Ontem, o diretor do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia de São Paulo, Adílson Pereira, disse que as várias visitas ocorreram por dois motivos: primeiro, porque surgiram algumas dúvidas nas análises do material colhido no apartamento; e, segundo, porque, à medida que as testemunhas relatavam novos fatos, outros laudos periciais se tornavam necessários. Ainda segundo Pereira, a equipe de peritos teve dificuldades para trabalhar porque a cena do crime foi modificada logo depois que a Isabella foi morta. “Há suspeita de que alguém fez uma limpeza no local e isso dificultou o trabalho dos peritos”, revelou o diretor do IC ao Correio. O maior problema é que o apartamento que serviu de palco para o crime foi lacrado pela polícia apenas três dias depois do assassinato de Isabella. Irmã Segundo os advogados do casal suspeito, a última pessoa a entrar no local do crime foi Cristiane Nardoni, 26, tia de Isabella. Ela garante que, ao sair do apartamento, só apagou as luzes, fechou as portas e janelas e saiu em seguida. No domingo 30, um dia depois do crime, as chaves foram entregues ao delegado Calil Calixto Filho, segundo os advogados. A possível limpeza poderia explicar a dificuldade dos peritos em determinar se as manchas encontradas na cena do crime eram sangue ou não. A blusa que Anna Carolina usava no dia do crime, entregue à polícia junto com outras peças de roupa na segunda-feira, também teria sido lavada por causa de manchas de refrigerantes e marcas de urina de uma das crianças. Ao entregar as roupas da madrasta e de Isabella, os advogados citaram apenas que foi derramado refrigerante sobre a bata da menina. As roupas são as mesmas usadas pelas duas em um supermercado em Guarulhos, na Grande São Paulo, quatro horas antes do crime. Ao defender cautela nas investigações, Pereira disse que é preciso verificar se a lavagem teve ou não a intenção de atrapalhar as investigações.(UC) Policiais e técnicos em uma das perícias na cena do crime: oito visitas ao apartamento do pai e da madrasta de isabella
Depressão pós-parto
A madrasta de Isabella Nardoni, Anna Carolina Jatobá, 24, teve depressão pós-parto depois do nascimento do segundo filho, de 10 meses, e pode não ter tomado os medicamentos receitados pelo médico. Uma moradora do Edifício London, que também tem um filho pequeno, afirmou que conversou com Anna Carolina e ela contou que teve um filho seguido do outro e que, por isso, sofreu de depressão. Em seu depoimento, Alexandre Nardoni afirmou que tinha uma receita médica em casa, de dois remédios prescritos para a mulher. Segundo ele, a família só comprou um dos remédios, um calmante. Ele disse ainda que a mulher não conseguia dormir à noite, por causa do choro do filho menor. Anna Carolina confirmou que comprou o remédio, mas diz que nem chegou a tomar o medicamento. A polícia analisa com cuidado as contradições encontradas nas dezenas de depoimentos colhidos até agora. Vizinhos relataram à polícia que o casal costumava brigar com freqüência e duas testemunhas informaram que ouviram Alexandre e Anna Carolina discutindo violentamente na noite do crime. Em defesa dos suspeitos, o advogado Marco Polo Levorin negou a versão das testemunhas. “Qualquer casal tem divergências. Eram divergências pontuais, costumeiras na vida de qualquer casal”, disse. Em seu depoimento à polícia, Anna Carolina disse que o marido, Alexandre Nardoni, era “calmo até demais” e evitava discussões. A delegada assistente Renata Pontes disse que não descarta a possibilidade de ouvir o filho mais novo do casal, de apenas 3 anos. O promotor Francisco Cembranelli, que acompanha o caso, já afirmou ser contra esse depoimento. Segundo ele, é preciso preservar o menino. Mãe Felipe Oliveira, irmão de Ana Carolina Oliveira, mãe biológica de Isabella, disse ontem que a repercussão da morte da menina tem sido muito difícil para toda a família. Segundo ele, o assédio da imprensa e as reportagens na televisão não permitem à família, e especialmente a Ana Carolina, viverem adequadamente o luto. Segundo ele, a irmã estaria muito abatida e cada vez mais triste com a ausência da filha.
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