terça-feira, 10 de junho de 2008

BRASIL/ Agroindustria

CONJUNTURA

Safra não vai segurar preços
Levantamentos da Conab e do IBGE mostram que produção agrícola 2007/2008 ficará acima dos 143 milhões de toneladas. Expectativa, no entanto, é de que a inflação continue alta

Luciano Pires
Da equipe do Correio

O clima ajudou, o produtor investiu e o Brasil terá neste ano sua melhor safra de grãos de todos os tempos. Levantamentos divulgados ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para uma produção recorde nas lavouras de norte a sul do país. Com a colheita farta, o agronegócio nacional se consolida, o abastecimento doméstico ganha força, mas nem uma coisa nem outra garante preços baixos ao consumidor. Nas contas da Conab, a safra 2007/2008 alcançará 143,3 milhões de toneladas, saldo 8,7% maior do que o registrado no ano agrícola anterior (131,8 milhões de toneladas). A área cultivada totalizará 47,1 milhões de hectares, superfície 1,9% além daquela utilizada no ano passado. O IBGE, que adota uma metodologia diferente, estima uma safra igualmente promissora, de 144,3 milhões de toneladas — 8,4% melhor do que a obtida em 2007 (133,1 milhões de toneladas). Os levantamentos revelam que, por causa dos bons preços internacionais, soja e milho são a grandes estrelas do campo atualmente, com boas chances de repetir o desempenho em 2009. A produção de soja será de 59,8 milhões de toneladas, enquanto que a de milho está na casa das 58,4 milhões de toneladas. A valorização externa e as exportações em alta estimularam os agricultores a dobrarem as apostas, melhorando a produtividade e os resultados finais. Ao que tudo indica, nem os mais conservadores vão se arrepender dos negócios fechados durante o período de comercialização dos produtos. O arroz, vilão dos supermercados nos últimos meses, terá uma produção quase 1 milhão de toneladas superior à registrada em 2007. Pelas previsões da Conab e do IBGE, também haverá um pequeno ganho no total produzido de feijão, outro item que pesou no orçamento das famílias. Como o consumo interno dessas duas variedades está estabilizado, a tendência é que os preços, apesar de elevados no varejo, não flutuem tanto até o fim do ano. Eledon Oliveira, gerente de levantamento de safras da Conab, explica que o ano foi positivo para quase todas as culturas. Pequenos problemas climáticos não abalaram o ritmo nas fazendas e mesmo no Rio Grande do Sul, onde o fenômeno La Niña mais preocupava, o resultado acabou sendo satisfatório. “O saldo é bom. Não corremos risco de desabastecimento, os estoques estão elevados, os preços em alta”, resumiu. Passado X futuro A safra 2008 deixa para trás uma seqüência de crises que abalaram o campo. Em 2005 e 2006, a falta de chuvas e o alto endividamento mascararam as volumosas colheitas de grãos, fazendo despencar a renda do produtor. No entanto, o agronegócio está agora diante de outro desafio. Mesmo capitalizados, os agricultores têm de enfrentar a alta dos insumos, puxada pela supervalorização do petróleo. E esse fenômeno é implacável tanto para quem planta como para quem consome produtos agrícolas. Com a alta de fertilizantes, adubos e outras matérias-primas básicas acima dos 100%, produzir está cada vez mais caro. Mesmo com a desvalorização do câmbio, os empresários reclamam que, em alguns casos, não compensa plantar. “O custo é o fiel da balança nesse momento. Se tudo não estivesse tão caro, crescer em área plantada e em exportações seria quase automático no ano que vem”, reforçou Leonardo Junho Sologuren, sócio-diretor da Consultoria Céleres. A saída, apontam os analistas, pode ser vender para o exterior. Ampliar as exportações é uma ferramenta quase infalível para recuperar investimentos realizados. Isso, no entanto, coloca mais pressão sobre o mercado interno. Para Sologuren, diante de cenários tão incertos do lado de dentro da porteira, o consumidor precisa se preparar. “No ano que vem, o consumidor pode ter certeza de que os preços dos alimentos continuarão altos”, completou

Proteção ao rebanho

O Brasil e países vizinhos vão intensificar as ações de prevenção e combate à febre aftosa com o objetivo de evitar que grandes mercados internacionais se fechem para a carne bovina produzida na América do Sul. Depois do embargo sofrido em 2005, e das crises de preços amargadas pelos pecuaristas nacionais, o governo brasileiro vai integrar um grupo de trabalho que visitará Bolívia, Venezuela e Equador para conhecer o que está sendo feito para manter os rebanhos protegidos. O grupo definirá metas, datas e fiscalizará o cumprimento das ações de erradicação. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, esteve ontem com o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), Bernard Vallat, que elogiou os esforços do país na área de sanidade animal. No mês passado, a OIE reconheceu 10 estados brasileiros e o Distrito Federal como áreas livres de febre aftosa com vacinação.

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