quinta-feira, 12 de junho de 2008

BRASIL / Educação

Salto na educação

Liderado pelos estados nordestinos, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica atingiu resultados previstos apenas para 2009

Paloma Oliveto
Da equipe do Correio Braziliense

Os alunos brasileiros superaram as expectativas do Ministério da Educação e, com notas melhores e menos reprovações, elevaram o indicador que afere a qualidade do ensino fundamental e médio no país. Ontem, o ministro Fernando Haddad anunciou os resultados regionais e estaduais do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que combina as notas da Prova Brasil e as taxas de aprovação. Nas três etapas de ensino avaliadas — séries iniciais, finais e ensino médio —, o Ideb não só atingiu a meta estabelecida para 2007 como já chegou ao patamar previsto para 2009.

No Distrito Federal, os alunos da 1ª à 4ª série tiveram o maior índice, 5, juntamente com o Paraná (leia abaixo). O Nordeste superou as dificuldades históricas e foi o maior responsável pelo aumento do Ideb no país. Das 27 unidades da Federação, somente o Amapá e o Rio Grande do Sul não chegaram ou ultrapassaram as metas de 2009 em pelo menos uma etapa de ensino. Para Haddad, a melhoria no desempenho deve-se ao esforço de professores e diretores escolares que, segundo ele, se dedicaram como nunca, desde 2005, quando saiu o primeiro resultado do Ideb. O professor Célio da Cunha, assessor especial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), diz que o resultado mostra que “a sociedade brasileira começou a atender o chamado da educação”. Ele afirma que, quando se cria um clima favorável à mudança, os resultados aparecem. “É o reflexo de todo um conjunto que começou no passado, a partir dos anos 1990, com a idéia de educação para todos, lançada pela Unesco”, acredita.

Para o educador, o ministro Haddad teve a visão de saber aproveitar o momento favorável e lançar o Plano de Desenvolvimento da Educação, conjunto de metas que completou um ano no mês passado. “Criou-se um estado de espírito que favorece a melhoria da educação. Com a participação dos estados e municípios, o MEC já começa a colher alguns resultados”, diz. Ex-secretário de Educação de Pernambuco e atual presidente-executivo do movimento da sociedade civil Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos destaca a relevância do Nordeste que, tradicionalmente, apresenta os piores índices de educação, ao lado do Norte. Dessa vez, foi diferente. O Maranhão, que ultrapassou as metas de 2009, foi o estado com maior crescimento do Ideb nas séries iniciais: passou de 2,9 em 2005 para 3,7 em 2007. Alagoas também deu um salto nessa etapa do ensino, saindo de 2,5 para 3,3.

Ainda assim, os alagoanos, ao lado dos paraenses, continuam a apresentar os índices mais baixos, quando se considera as séries finais e o ensino médio. “Discriminação positiva” Para o educador Jorge Wertheim, os resultados do Nordeste mostram a importância da chamada “discriminação positiva”, ou seja, tratar de forma desigual os diferentes, enfatizando as ações nas localidades com piores desempenhos. Ele também acredita que, pela primeira vez, governo federal, estados e municípios estão realmente juntos na construção de uma política educacional efetiva. “Estava faltando fortalecer esses três poderes”, constata. Como considera o resultado da Prova Brasil, que mede a proficiência em português e matemática, e o fluxo escolar, o Ideb não é um indicador quantitativo, mas qualitativo.

O ministro Fernando Haddad comemorou o fato de o índice apontar melhorias reais no ensino público. No geral, o país ainda está distante da média das nações que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que é 6. E bem distante do indicador máximo, 10. “A gente está numa maratona. Para chegar ao 6, índice previsto para 2022, será necessário um esforço muito maior daquele que foi feito até agora”, aposta Mozart Neves Ramos. Outro desafio é melhorar os índices das séries finais e do ensino médio. Em oito estados, o Ideb do ensino médio piorou. “Esse nível de ensino requer outras providências, que já estão sendo tomadas, como a ampliação do Bolsa Família para jovens de 16 e 17 anos, o que garante a permanência deles na escola”, afirma Haddad.


DF, a melhor nota

As turmas das séries iniciais de ensino fundamental do DF lideram a lista do Ideb com a melhor nota do país na categoria. Ao lado do Paraná, a unidade alcançou o primeiro lugar nas provas da 4ª série com média 5. O resultado ultrapassou a meta exigida pelo Ministério da Educação, de 4,9 pontos, e é maior que a nota de 2005, de 4,8. O secretario de Educação do DF, José Luiz Valente, acredita que o desempenho é positivo, mas não suficiente. “Estamos muito felizes com o resultado, porque isso representa que estamos na direção certa. Mas as notas mostram que ainda temos um longo caminho pela frente”, afirmou.

O secretário acredita no sucesso de dois projetos para melhorar as notas em 2009: o plano de aceleração do aprendizado e a educação integral. Os dois tiveram início este ano para reduzir a quantidade de alunos defasados e repetentes — dos 85 mil estudantes do ensino médio, 41 mil estão em séries incompatíveis com a idade. Cento e dez colégios de ensino fundamental aderiram ao horário integral e oferecem reforço, atividades esportivas e artísticas no turno oposto às aulas.

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