sexta-feira, 20 de junho de 2008

BRASIL / Violência

EXECUÇÃO NO MORRO

Assassinos à soltaEnquanto a sociedade brasileira debate a permanência ou não das tropas do Exército em apoio a obras em favelas do Rio, os traficantes que executaram três jovens continuam sem ser perturbados pela polícia


Cinco dias depois das mortes dos três jovens moradores do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, entregues a traficantes do vizinho Morro da Mineira por 11 integrantes do Exército e assassinados com 46 tiros, os militares estão presos e foram indiciados pela Justiça por homicídio triplamente qualificado. A Justiça determinou a saída do Exército do morro.

O ministro da Defesa foi até o local e pediu desculpas formais à comunidade. Os bandidos da Mineira, porém, sequer começaram a ser incomodados pela polícia do Rio. Ontem à noite, o Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou imagens de traficantes armados transitando tranqüilamente pelo morro, à luz do dia. Também ontem, os delegados da 4ª DP, na Central do Brasil, Ricardo Dominguez, e da 6ª DP, na Cidade Nova, Rodolfo Waldeck, e o diretor de polícia da capital, delegado Sérgio Caldas, se reuniram para discutir uma estratégia de investigação dos responsáveis pelas mortes.

O inquérito será comandado pelas duas delegacias, com apoio de especializadas. Caldas negou que a investigação esteja em ritmo lento. “Não podemos sair em incursões sem um objetivo e uma informação pontual. Estamos fazendo um levantamento dos pontos antes”, afirmou. Segundo ele, a polícia ainda investiga se o corpo encontrado na segunda-feira no Morro da Mineira é de um traficante supostamente morto como punição, após a repercussão da morte dos jovens. O corpo foi encontrado esquartejado.

A polícia já identificou alguns bandidos que teriam cometido o assassinato. De acordo com Caldas, pelo menos cinco homens participaram da sessão de tortura a que os jovens foram submetidos. A secretaria informou que um trabalho de “inteligência” está em andamento para se chegar aos criminosos e que “ações devem ser planejadas com certa antecedência”. O secretário José Mariano Beltrame, que ontem estava em Brasília, disse que “não adianta subir o morro com gosto de sangue na boca”.

A polícia está trabalhando em novo inquérito para identificar executores e acredita que em breve nova ação vai ser deflagrada.” Segundo legistas do Instituto Médico Legal (IML), Wellington Gonzaga Ferreira, 19 anos, foi morto com 26 tiros e encontrado com as mãos amarradas; David Wilson da Silva, 24, com 19 disparos e mutilações; e Marcos Paulo Campos, 17, com um tiro no peito, sinais de tortura e pernas amarradas. Recurso O procurador regional da União na 2ª Região (RJ), Daniel Levy de Alvarenga, entrou ontem no Tribunal Regional Federal (TRF) com um pedido de suspensão da decisão da juíza da 18ª Vara Federal, Regina Coeli Medeiros de Carvalho Peixoto, de ordenar a retirada das tropas do Exército que fazem a segurança dos canteiros de obras e de equipes técnicas de militares que participam do projeto Cimento Social no Morro da Providência.

Segundo a juíza, os militares devem ser substituídos pelos policiais da Força Nacional de Segurança, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Segundo Alvarenga, “a decisão, como concedida, é de plano inexeqüível e provocará graves danos à ordem e à segurança pública”. O procurador afirma que a presença das tropas é apenas para “dar apoio ao projeto de revitalização de moradias populares desenvolvido pelo Ministério das Cidades”, o que é constitucional. No entanto, no entendimento da juíza federal, a presença dos militares no morro “tem por escopo a manutenção da ordem e da segurança pública”, missão que não pode ser realizada pelo Exército, segundo a Constituição Federal.

Ainda conforme o procurador, mesmo que o recurso não seja aceito, “a desmobilização do efetivo” não pode ser feita de forma imediata como determinou a juíza, mas deve acontecer “num prazo razoável”.

Não adianta subir o morro com gosto de sangue na boca

José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio

O número
46Tiros foram dados nos três jovens mortos pelos traficantes.
Os corpos também apresentavam sinais de tortura

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