sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

CULTURA - CINEMA BRASILEIRO

07/02/2008 - 08h33

"Tropa de Elite" disputa prêmios da 58ª edição do Festival de Berlim
Publicidade


SILVANA ARANTES Enviada especial a Berlim, da Folha de S.Paulo


No 58º Festival de Berlim, que começa hoje, o Brasil tentará voltar dez anos no tempo e repetir o resultado de 1998, quando saiu da disputa com o Urso de Ouro de melhor filme ("Central do Brasil", de Walter Salles) e um Urso de Prata de interpretação --melhor atriz, para Fernanda Montenegro.


O representante brasileiro na competição deste ano é "Tropa de Elite", de José Padilha, que chega a Berlim para a disputa com outros 20 títulos com um histórico de sucesso e polêmicas atrás de si.


Foi o filme brasileiro mais visto no país em 2007 (2,4 milhões de espectadores). Pirateado antes da estréia nos cinemas, virou "hit" no mercado informal. Dividiu a crítica entre os que o aplaudiram e os que enxergaram em seu retrato do Bope, o Batalhão de Operações Policiais Especiais da PM do Rio, uma defesa da tortura.


"Se Wagner Moura [intérprete do protagonista Capitão Nascimento] ganhar o prêmio de melhor ator, não vou ficar surpreso", afirma Padilha.


Sobre a carreira internacional do filme, que começa por Berlim, na próxima segunda, quando ocorre sua sessão oficial competitiva, o diretor afirma estar "bem animado".
"Quem sou eu?"



"Padilha é muito otimista", diz Moura, que irá a Berlim para promover o filme, mas minimiza suas chances de vitória. "Quem sou eu perto do Daniel Day-Lewis?", compara.


O inglês Day-Lewis concorre ao Urso de Prata pela interpretação de Daniel Plainview em "Sangue Negro", de Paul Thomas Anderson. Trata-se de um personagem, assim como o Capitão Nascimento, violento e determinado, que já rendeu a Day-Lewis o Globo de Ouro e a aura de imbatível no Oscar.


Ao definir o perfil da disputa a pedido da Folha, o diretor do Festival de Berlim, Dieter Kosslick, afirma (por e-mail): "Pela primeira vez, teremos um documentário na competição pelo Urso de Ouro, "Standard Operating Procedure" [de Errol Morris].

O filme é sobre a violação dos direitos humanos em Abu Ghraib, no Iraque. De forma geral, este será um festival muito emocionante. Há ainda uma tendência de filmes muito próximos da realidade e de temas políticos".


O Festival de Berlim classificou "Tropa de Elite" como "um thriller político", ao divulgar sua seleção para a disputa.Padilha avalia que "é razoável" a definição, desde que se entenda a palavra "political" "no sentido americano, ou seja, usado para qualquer coisa que tenha uma conotação de crítica social".



O diretor está curioso para ver como o público europeu irá reagir ao seu filme.
"Lá não existe o "background" cultural daqui, de violência urbana. As pessoas não lidam o dia inteiro com esse problema abordado no filme. Os que estarão vendo o filme não são usuários de drogas aqui, não compram maconha e cocaína de traficante armado no morro. Portanto, não têm má-consciência, vamos dizer assim, em relação ao que os policiais dizem no filme. Isso muda enormemente a percepção", diz.



A polêmica da Berlinale deste ano já se anuncia, ameaçando a exibição do candidato alemão "Feuerherz" (coração de fogo), de Luigi Farloni, baseado na biografia da cantora alemã de origem africana Senait Mehari.


Personagens citados por Mehari em seu livro, sobre suas memórias de infância, quando ela teria sido submetida a treinamento militar na Eritréia, reclamaram na Justiça indenizações por difamação. Uma recente decisão desfavorável à autora colocou o livro -e o filme- em situação vulnerável.

Nenhum comentário: