sábado, 9 de fevereiro de 2008

INTERNACIONAL / Fidel Castro

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O mito Fidel
Correio Brasiliense em 21/2/2008

“Por que tanto barulho?” É a pergunta que a universitária de 20 anos fez na roda de amigos. Os colegas pareciam compartilhar a perplexidade. Um homem de 81 anos, velho e alquebrado, anuncia que não vai concorrer às eleições presidenciais. E daí? Ele deu o que tinha de dar. Agora, falta-lhe saúde. Falta-lhe disposição. Falta-lhe projeto. Nada melhor que cair fora.

A reação causou estranheza à turma que passou dos 50. Eles não vêem a criatura debilitada que volta e meia aparece nas telas. Vêem o comandante Fidel Castro. Ali está o guerrilheiro que enfrentou o império, derrubou a ditadura corrupta de Fulgencio Batista e transformou Cuba no sonho comunista que embalou os ideais pós-guerra. Num mutirão patriótico, apagou o analfabetismo do país. Investiu pesado na educação de qualidade, na saúde de ponta e no esporte competitivo. A ilhota do Caribe virou referência mundial.

Fidel só é Fidel porque chegou na hora certa. Vivia-se a época dos movimentos libertários. Sonhar era permitido. E sonhava-se alto. Não se lutava por dinheiro, ascensão social ou manutenção deste ou daquele privilégio. Lutava-se pela concretização de anseios universais e altruístas. Umbigo e ponta do nariz não tinham vez nem audiência.

Feministas queimaram sutiãs em praça pública em busca dos direitos das mulheres. Martin Luther King foi às ruas pelo reconhecimento da igualdade dos negros. Estudantes apanharam da polícia na defesa da qualidade do ensino. Jovens se organizaram para pôr abaixo a opressão e a ditadura. Impossível era palavra inexistente no dicionário.

Fidel concretizou o sonho por tantos sonhado. Ele e seus guerrilheiros, além de plantar o comunismo no quintal dos Estados Unidos, sobreviveram ao bloqueio cruel. Davi, em plena guerra fria, venceu Golias. (As fugas em massa, as perseguições, os fuzilamentos no paredão vieram depois. O mito estava consolidado.)


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