sábado, 9 de fevereiro de 2008

INTERNACIONAL / Cuba

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Fidel Castro renuncia após 49 anos à frente do
poder em Cuba

da Folha Online

O ditador cubano, Fidel Castro, 81, anunciou nesta terça-feira sua renúncia após 49 anos à frente do poder em Cuba. Fidel, que não aparece em público desde que foi submetido a uma cirurgia intestinal, há cerca de um ano e meio, disse que não aceitará cumprir um novo mandato na Presidência após a reunião do Parlamento cubano, prevista para o próximo domingo (24).

"Meu desejo sempre foi cumprir minhas tarefas até o meu último suspiro", escreveu Fidel em uma carta publicada nesta terça-feira no site na internet do jornal "Granma". "No entanto, seria uma traição à minha consciência assumir uma responsabilidade que exige mobilidade e e dedicação que não estou em condições físicas de cumprir", escreveu o ditador cubano.

Claudia Daut/Reuters

Após 49 anos à frente do poder, ditador cubano Fidel Castro renuncia ao cargo por "falta de condições físicas" para continuar
A renúncia abre caminho para que seu irmão, Raúl Castro, 76, implemente reformas no país. Ele assumiu interinamente o poder depois que Fidel adoeceu, em 31 de julho de 2006.

Ao fim de sua mensagem, Fidel se refere ao processo político cubano, e afirma que conta "com a autoridade e a experiência para garantir plenamente a sua substituição". Na carta, ele diz que não retornará à Presidência do país e que seu irmão Raúl será o novo presidente.

Fidel cedeu temporariamente o poder ao irmão depois de passar por uma cirurgia intestinal. Desde então, ele não foi mais visto em público, aparecendo apenas esporadicamente em fotos e gravações oficiais, e publicando artigos sobre várias questões internacionais.

Na carta, ele afirmou ainda que não participará da reunião da Assembléia Nacional, no próximo dia 24, para escolher os 31 membros do Conselho de Estado (Poder Executivo).

Fidel continuará como membro do Parlamento, mas não será mais o presidente do órgão.

A mulher de Raúl Castro, Vilma Espin, manteve sua cadeira no Conselho no ano passado até a sua morte, mesmo estando, durante meses muito doente para comparecer às reuniões.

Repercussão nos EUA

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmou nesta terça-feira que a renúncia de Fidel "deve ser o começo da transição democrática em Cuba".

"A comunidade internacional deveria trabalhar com o povo cubano para começar a construir instituições para a democracia", disse Bush na entrevista coletiva que ofereceu em Kigali, capital de Ruanda. O presidente americano está em uma viagem por vários países da África.

"Eventualmente, esta transição deveria acabar em eleições livres e justas", disse.

Bush visitou em Ruanda um memorial das vítimas do genocídio no país em 1994, quando 800 mil pessoas foram mortas, sobretudo membros da etnia tutsi.

No entanto, o subsecretário de Estado americano, John Negroponte, disse que a suspensão do embargo imposto pelos EUA a Cuba não deve ser imediato.

Em Miami, que abriga muitos dos exilados cubanos, a reação à renúncia foi de satisfação.

"É muito bom que Fidel renuncie, mas será melhor ainda quando ele morrer", disse Juan Acosta, cubano que deixou a ilha caribenha em 1980, enquanto comprava um jornal em Calle Ocho, a principal rua do bairro de Little Havana, onde mora a maior parte dos cubanos.

Europa

Vários governos europeus também declararam que a saída de Fidel pode ser o início da democracia em Cuba. "A renúncia de Fidel é o fim de uma era que começou com liberdade e terminou com opressão", disse o ministro sueco das Relações Exteriores, Carl Bildt.

Marcelo Katsuki/Arte Folha

"Observamos com atenção e interesse o desenvolvimento dos eventos em Cuba", disse à Efe Martin Jäger, porta-voz do ministro de Relações xteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier.

Ele acrescentou que a mensagem do líder cubano deve abrir a "via para a democratização da sociedade cubana, assim como à melhora da situação econômica do país".

O ministro de Relações Exteriores espanhol, Miguel Ángel Moratinos, disse que seu país acompanhará e ajudará Cuba a ter "o melhor futuro possível para todos os cidadãos".

A França lembrou seu desejo de que Cuba empreenda "o caminho da democracia e do respeito aos direitos humanos", após o anúncio da renúncia de Fidel a outro mandato.

Ao saber da decisão de Fidel, a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da França, Pascale Andréani, aproveitou para reafirmar a "amizade da França com o povo cubano".

O secretário de Estado de Exteriores da Itália para a América Latina, Donato Di Santo, pediu hoje para as autoridades cubanas iniciarem "uma transição democrática" no país, e qualificou a decisão de Fidel como gesto "importante, nobre e esperado, dentro e fora da Ilha".

Reunião

A nova Assembléia Nacional, eleita no final de janeiro, tem até 45 dias para escolher o chefe do governo do país.

Desde 1976, Fidel vinha sendo eleito e ratificado em todas as eleições, que se realizam a cada cinco anos.

No último sábado (16), Fidel havia aumentado a expectativa sobre sua decisão ao anunciar que "na próxima reflexão, abordarei um tema de interesse de muitos compatriotas".

Em mensagens que escreveu em dezembro, Fidel afirmou que não se apega ao poder, não obstrui as novas gerações e expressou seu apoio a Raúl, que desatou a ansiedade da população ao anunciar "mudanças" para enfrentar os graves problemas do país e ao criticar o "excesso de proibições".

Raúl desperta esperanças de mudanças econômicas que melhorem o cotidiano dos cubanos, e analistas dizem que a transferência formal do cargo lhe daria força para implementar tais reformas.

Era Fidel

Castro assumiu o poder em Cuba em 1959, e transformou o país em um Estado comunista.

Durante os 49 anos à frente do poder, ele sobreviveu a tentativas de assassinato e a uma invasão da ilha apoiada pela CIA [inteligência americana]. Dez administrações americanas tentaram derrubá-lo. A mais famosa tentativa foi a invasão da Baía dos Porcos, em 1961.

Os partidários de Fidel o admiravam pela habilidade de garantir alto nível nos serviços de educação e saúde para os cidadãos, embora permanecesse independente dos EUA. Já seus opositores o chamavam de ditador cujo governo totalitário negava as liberdades civis.

Em 16 de abril de 1961, Fidel declarou sua revolução socialista. Um dia depois, ele derrotou a tentativa de invasão da Baía dos Porcos, apoiada pela CIA.

Os EUA embargaram a economia de Cuba, e a inteligência americana planejou matá-lo.

A hostilidade chegou ao seu auge em 1962, com a crise em torno dos mísseis cubanos.

Com o colapso da ex-União Soviética, a Cuba entrou em crise econômica, mas se recuperou durante a década de 90, com o boom do turismo.

Com Efe e Associated Press

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